Sara Sarres inicia turnê do ‘Fantasma da Ópera’ na China
Uma das canções mais marcantes do musical O Homem de La Mancha, que encerrou temporada em São Paulo há alguns meses, enaltece uma contradição: a realização de um sonho impossível. Sara Sarres, que viveu um dos papéis principais, Aldonza, pode-se gabar de ser uma honrosa exceção. Afinal, ela foi convidada para representar Christine na turnê mundial de O Fantasma da Ópera, um dos mais icônicos espetáculos de todos os tempos. Na madrugada dessa terça, 1º, ela viajou para a China onde, em três semanas, estreia no papel na cidade de Guangzou – depois, o musical segue para Pequim.
“Fiquei honrada pois, para essa turnê comemorativa, os produtores americanos e ingleses escolheram suas Christines favoritas”, disse a atriz, uma das mais talentosas do musical brasileiro. “Trata-se de um papel muito difícil, porque exige uma extensão vocal de três escalas.” Isso significa transitar com tranquilidade do grave ao mais agudo, habilidade reservada apenas às chamadas “first class sopranos”.
Aos 35 anos, Sara exibe um talento nato. Em O Homem de La Mancha, sua voz encantava pela melodia e elasticidade. “Ela atingia determinadas notas que me deixava emocionado”, relembra o diretor do espetáculo, Miguel Falabella. Idêntica reação tiveram os produtores estrangeiros de O Fantasma da Ópera, que trabalharam com Sara durante um mês, em julho, quando a atriz viajou a Nova York para lapidar sua atuação – lá, assistiu a inúmeras sessões do musical no tradicional teatro Majestic, além de participar de aulas de canto e de dicção (na China, como em outros países para onde seguir a turnê, Sara vai cantar em inglês).
O trabalho de reviver o papel não foi árduo. “Acredito que temos uma memória muscular, pois, quando tentei relembrar determinadas coreografias, bastou fechar os olhos e ouvir as melodias para o corpo naturalmente sair dançando os passos certos”, conta.
Curiosamente, Saulo Vasconcelos, que interpretava o Fantasma, também seguiu carreira internacional com o musical, trabalhando no México. Ele participou, ao lado de Sara, de Les Misérables na montagem de 2001, que marcou a retomada dos musicais no Brasil. Na época, com 20 anos, Sara já era uma referência em Brasília, onde se dividia entre musicais e óperas. “Soube por uma amiga que haveria uma audição para o Les Mis e vim, junto com uma tropa de brasilienses, que incluía Paula Capovilla, Fred Silveira, entre outros.”
Não bastasse a beleza, a versatilidade de Sara impressiona – além de cantar, ela sapateia, toca piano, percussão e interpreta de forma convincente. Mas seu grande trunfo é a voz de soprano “lírico-leggero” – no linguajar dos musicais, Sara é classificada como “crossover”, ou seja, apresenta-se bem tanto como “belter”, o tom característico dos musicais, como “legit” ou “trained”, mais leve e específico da ópera. Foi essa elasticidade que permitiu uma façanha: depois de dois anos à frente do Fantasma da Ópera, quando posicionava a voz no “legit”, ela assumiu o papel de Anita, no clássico West Side Story, no qual abusou do “belter”. “Sempre fui apaixonada por musicais, pesquiso intensamente e nunca me sinto satisfeita com minhas conquistas”, garante.
O Estado de S. Paulo